Continuamos o terceiro dia de Veneza com Mike Leigh, um importante diretor inglês de cinema e teatro, que pode ser lembrado principalmente pelo seu último filme, que fez um certo sucesso na temporada e deu o prêmio de Melhor Ator para Timothy Spall em Cannes, "Sr. Turner". Leigh chega até Veneza com "Peterloo", que conta a história do Massacre de Manchester, que aconteceu em 1819, onde forças britânicas mataram 15 pessoas e feriram mais de 700 durante um protesto pacífico pelo direito ao voto. O longa promete fazer sucesso na temporada, principalmente no BAFTA, o Oscar inglês. E o elenco conta com alguns nomes muito interessantes do cinema e do teatro britânico: Alastair Mackenzie, Christopher Eccleston, David Bamber, Maxine Peake, Rory Kinnear e Eileen Davies. "Peterloo" chego em Veneza com um certo receio da crítica que diz que os melhores trabalhos de Leigh ficaram para trás, pois "Sr. Turner" é movido pela grandeza da atuação de Spall. Mas, logo nas primeiras linhas das críticas, vemos o quanto estavam errado. O The Guardian deu 5 estrelas em 5 e escreveu: "Mike Leigh traz uma simplicidade e severidade esmagadora para este épico histórico, que começa com a retórica e termina em violência. Há força, coragem e, acima de tudo, um senso de propósito; uma sensação de que a história que ele tem para contar é importante e real, e que precisa ser ouvida agora". O The Guardian ainda fez uma comparação interessante, ao dizer que Paul Greengrass faria desse um filme violento e desorientador. Mas Leigh seguiu algo como a linha de Ava DuVernay com "Selma", se preocupando com a importância política e colocando todas as discussões e preparando o público para o estopim final. A violência não é o principal e nunca soa como um artificio da direção. A comparação com "Selma" é muito interessante, já que ambos os filmes carregam críticas muito semelhantes a essa da Variety: "'Peterloo' é uma expêriencia empolgante, particularmente à medida que avançamos lentamente em direção ao terrível evento - encenado com um dinamismo severo e agressivo para o qual a pequena filmografia anterior de Leigh nos preparou. Mas não há como negar que a maior parte desse filme de 154 minutos é difícil, com pouca participação na comédia humana de Leigh, muitos diálogos e repleta de personagens e incidentes que o público tenta desesperadamente se lembrar de tudo, como estudantes revisando para um exame (...) Em relação ao design do filme: nada sobre essa triste passagem da história foi fácil para suas vítimas, e 'Peterloo' estabelece com integridade a experiência daqueles que sofreram e isso soa sincero e não apenas um apelo comercial. Ainda assim, se alguém se perguntar se o longa funciona em sua forma, “Peterloo” parece meio inclinado a se libertar de seu espartilho cinematográfico, na verdade, ninguém reclamaria se fosse lançado como uma minissérie completa". O Independent UK deu 4 estrelas em 5 e elogiou a direção de Leigh: "Ele tem um enorme elenco, mas essa atenção exaustiva aos detalhes e fascinação com as excentricidades do comportamento humano, que sempre caracterizou seu trabalho, ainda está lá (...) e Leigh expõe todas as fissuras da sociedade britânica do período, o que ainda hoje deve causar bastante discussão por aí". Aliás, o Independent UK responde exatamente quem ainda tinha qualquer dúvida sobre o trabalho do diretor: "Graças ao apoio da Amazon Studios, Leigh tem um orçamento muito maior do que em qualquer um dos seus filmes anteriores. Isso se mostra não apenas no enorme elenco, mas no próprio massacre, no qual vemos a cavalaria atacar as vastas multidões. Com tanta coisa acontecendo e tantos personagens diferentes, o filme ocasionalmente perde seu ímpeto dramático. Então, novamente, um dos pontos sobre 'Peterloo' é que o filme não tem um herói. É sobre a experiência coletiva do massacre. Os atores mais proeminentes, seja Maxine Peake como matriarca tentando manter sua família unida diante da extrema privação ou Kinnear como o orador, compartilham o tempo de tela com dezenas de outros (...) Mas é inegável que Leigh está confortável com o elenco enorme, as cenas de grandes proporções, a temática história e até o mesmo enorme orçamento. Aos 75 anos, o diretor britânico ainda está claramente no auge de seus poderes". "Peterloo" ainda soa como uma espécie de azarão da temporada. Ultimamente temos tido alguns fortes filmes ingleses no Oscar conseguindo diversas indicações e algumas vitórias, como "O Jogo da Imitação" e "Dunkirk". O trunfo principal de Leigh deve ser uma campanha de sucesso rumo ao BAFTA, que deve dar um ótimo empurrão para o filme chegar no Oscar. O longa não deve conseguir espaço entre as categorias de atuação, já que parece que o numeroso elenco dificulta que algum personagem se sobressaia. Mas, em categorias técnicas e até mesmo uma lembrança em Melhor Diretor e Melhor Filme são realmente possíveis. Danilo Teixeira - equipe CETI!
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