Oscar 2018: Confira o bate papo que aconteceu entre as atrizes Jennifer Lawrence, Emma Stone, Mary J. Blige, Jessica Chastain, Allison Janney e Saoirse Ronan.

O ano de 2017 passou muito rápido! Estamos no meio de novembro e a temporada de premiações já está na porta, fazendo anúncio de indicados e especulações cada vez mais assertivas. Também já é o período das roundtables, momento em que os atores, diretores e produtores se encontram para conversar sobre suas carreiras, seus filmes, arte e Hollywood.

O grupo foi formado por Jessica Chastain, indicada a dois Oscar, concorre por "A Grande Jogada"; Mary J. Blige, que pode ter tido seu primeiro papel de destaque com "Mudbound", mas é uma velha conhecida da música, dona do hit As, gravado com George Michael; Allison Janney, ela brilha na tv há muitos anos, além de ser coadjuvante de luxo em muitas produções, contudo com "I, Tonya" ela deixou a plateia com o queixo caído; Emma Stone, última vencedora do Oscar de Melhor Atriz busca a dobradinha com "A Guerra dos Sexos"; a jovem Saoirse Ronan, que por "Lady Bird" pode chegar a sua terceira indicação com apenas 24 anos; e Jennifer Lawrence, a queridinha de Hollywood assombrou o mundo com sua interpretação em "Mãe!" e quer o seu segundo Oscar. A primeira pergunta não poderia ser diferente: os escândalos de assedio sexual de produtores, atores e diretores de Hollywood.

Repórter: Vamos tirar logo o Band-Aid. Hollywood tem vivido um momento conturbado em meio aos casos de assédio sexual. Algumas pessoas acreditam que a indústria do entretenimento nunca mais será a mesma.

Jessica Chastain: Espero realmente que a indústria do entretenimento nunca mais seja a mesma. Se você olhar para Louis B. Mayer, Fatty Arbuckle e Jack Warner, ou ler o livro de Shirley Temple e descobrir o que aconteceu com ela quando era criança. Há uma história de abuso contra mulheres em nossa indústria e nunca foi abordado. Estou devastada por todas as histórias que surgiram porque é doloroso, mas ao mesmo tempo, sinto-me esperançosa porque não ignoramos mais.

Jennifer Lawrence: O grande equívoco é pensar que isso é apenas na indústria do entretenimento. Mais uma vez, a indústria do entretenimento é uma espécie de palco no qual você pode ver o funcionamento interno de problemas que estão no mundo inteiro. Se um comissário de bordo denunciar um piloto, não será notícia porque ninguém vai saber, não é interesse. Entretanto não significa que haja menos abuso sexual em qualquer outro lugar do mundo ou em qualquer outro local de trabalho. Mas, felizmente, estamos iniciando a conversa agora.

Emma Stone: Há um artigo realmente surpreendente que Brit Marling escreveu, em que dizia essencialmente que se as mulheres fossem pagas igualmente em todas as indústrias, isso não ocorreria. As mulheres tiveram que se sujeitar a estas coisas por tantos anos apenas para conseguir trabalhar, que se chamasse a atenção das pessoas, elas estariam propensas a serem demitidas ou ter a carreira manchada pelo homem em posição mais poderosa. Então, é um debate enorme para a nossa indústria, espero que este seja apenas o ponto de inflexão para que possamos discutir a igualdade de remuneração pelo trabalho igual para mulheres em todas as indústrias e o fim dessa cultura de assedio. 

R: Essas histórias fizeram com que vocês olhassem para as suas carreiras com uma luz diferente ou reavaliasse as interações/relacionamento que você tiveram?

Allison Janney: Tenho muita sorte de nunca ter experimentado nenhum tipo de assédio e a única razão pela qual eu posso pensar é que minha carreira não decolou até que estivesse como 38 anos. Eu sempre fui ciente do teste do sofá, pensava que, infelizmente, era algo que muitas mulheres se sujeitavam para poder crescer na carreira. Mas é emocionante ver que depois do que está acontecendo, as crianças crescerão sem saber o que é isso, que será uma coisa do passado e não haverá mais abuso de poder. É emocionante pensar que estamos mudando nossa cultura.
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Saoirse Ronan: Tive muita sorte de estar protegida de muito disso. Nunca fui realmente exposta ao que acontece nas festas, nunca fiquei sozinha com ninguém que tivesse essa intenção, minha mãe e meu pai estavam sempre por perto. A coisa realmente decepcionante sobre tudo isso é que os jornalistas e outras pessoas em Hollywood sabiam de toda essa merda (sic) sobre todos esses homens e mulheres nos últimos anos, mas eles não fizeram nada com isso. Apenas foi varrida para baixo do tapete.

Jessica Chastain por "A Grande Jogada"

Mary J. Blige por "Mudbound"

R: Pode a cultura do poder da influência e a cultura do abuso mudar?

Jennifer Lawrence: Espero. Eu acho que vai demorar um pouco porque está profundamente enraizado, infelizmente. É uma espécie de alguma forma de prova social de sua masculinidade.

Jessica Chastain: Sempre que você tiver grandes executivos que são responsáveis pelo sustento de outros, você terá abusos de poder. [Para Blige] Estou interessada em seu ponto de vista sobre isso, uma vez de estar na música há tantos anos e agora no cinema. O que você está vendo?

Mary J. Blige: Bem, na indústria da música nunca tive esse problema. Eu sempre fui um dos garotos, tida como um dos caras. Sinto-me triste por estas mulheres, mas estou feliz por estarem livres agora, depois de segurar um segredo por anos. E eu acredito que as coisas vão mudar porque isso faz outras mulheres dizerem: "Eu também", "Eu também", "Eu também". Continua acontecendo porque as pessoas estão cansadas de sentar-se com o segredo que os mantém prisioneiros. Muitas mulheres passaram por isso desde quando eram crianças, atravessando um caminho até a idade adulta. Nunca tive isso na música porque passei por isso na infância.

Jessica Chastain: Mas você disse que era como um dos garotos. Você acha que tomou essa decisão para se proteger?

Mary J. Blige: Sim, eu fiz. Fui uma criança e uma adolescente que só usava jeans, Timberlands [um tipo de botas] e bonés virados para trás. Levei muito tempo até usar maquiagem e roupas apertadas porque já havia sido assediada no passado, são segredos com os quais ainda tenho que lidar. Então espero que essas mulheres sejam livres, porque dói.

Emma Stone: Eu sou alguém que tem muito muito receio para falar. Temos que reconhecer que existem muitas que ainda não contam suas histórias, que não estão a vontade para compartilhar. Sinto muita compaixão por aqueles que ainda estão trabalhando todos os dias com o seu abusador ou sofreram abusos no passado e não estão prontas para dizer. E colocar pressão sobre as mulheres para que compartilhem para que fiquem voltem a ficar em evidência é um cúmulo, não é justo.

Mary J. Blige: Muitas pessoas não estão prontas. As vezes você, quando se é jovem, você sofre o assédio sexual, mas não sabe que é.

Allison Janney por "I, Tonya"

Jessica Chastain: Muitas não falam porque temem não voltar a trabalhar. Você precisa ser capaz de dizer: "Isto é errado". Só que a pessoa vai responder: "Ah, está errado? Bem, então você está despedida".

​Jennifer Lawrence: As vezes eu percebia isso acontecer e finalmente tomei a decisão de me defender. Uma vez fui ao banheiro no trabalho e um dos produtores me deteve e disse: "Você sabe, nós podemos ouvir você no microfone e você foi realmente indisciplinada." O que não era verdade, mas basicamente meu trabalho estava ameaçado porque o diretor disse uma merda (sic) para mim e respondi: "Isso é doentio, você não pode falar comigo assim". Depois fui punida e tive medo de não ser contratada novamente.

​Emma Stone: Sim, você era "difícil".

Jennifer Lawrence: Sim, fui chamada de difícil e acusada de ser um pesadelo. Eu acho que muitas pessoas não estão falando

R: Mesmo antes do clima atual, havia muita conversa sobre a equiparação salarial. É algo que vocês consideram antes de assumir um papel?

Jessica Chastain: Eu penso. Há um grande número de problemas em termos de igualdade salarial, mas também um baixo número de roteiristas e diretoras que assumem um projeto. Agora eu tenho uma empresa de produção e pergunto aos meus agentes: "Vocês podem me enviar uma lista de roteiristas?" E são todos homens. Percebo que eles enviam os roteiristas que têm a cotação mais alta porque eles obtêm uma porcentagem nisso. Então, isso nos leva a pensar que não há muitas mulheres cineastas. Só que com atores eu não entendo. Uma agência bem sucedida fica responsável por escalar todos os personagens de um filme, como agente você ganha um terço do salário da sua co-estrela. Após "A Hora Mais Escura", me enviaram muitos scripts com protagonista feminina, porém não fechavam o meu contrato até que soubessem quem era o principal ator masculino, porque precisavam primeiro fazer seu contrato com ele e depois ver o que restava.

Todas: Ugh!

Saoirse Ronan: O quê ?!

Jessica Chastain: Sim. Decidi que não vou fazer mais isso. Então de agora em diante, se alguém me chamar para uma próxima produção, ótimo. Vamos fazer o meu acordo primeiro. Mas também, se alguém estiver precisando de uma atriz há três semanas de começar um filme de dois meses de gravação, eles não receberão mais do que eu.

Jennifer Lawrence: É muito mais fácil para mim ser paga de forma justa. A razão pela qual eu falei sobre isso [depois que os escândalos com o vazamento dos emails da Sony revelaram que ela recebeu menos do que os co-protagonistas masculinos de "A Trapaça"] foi importante. Estamos na indústria e todo mundo está nos olhando, se estamos passando por isso, toda mulher no mundo está passando por isso também. Contudo o problema real é a normalização. Essa é a razão pela qual os agentes não pensam duas vezes em pegar um terço do seu cheque de pagamento porque isso está tão normalizado há muito tempo.

Alisson Janney: Eu faço um programa de TV [Mom, no ar pela CBS]. Duas mulheres são as protagonistas e merda (sic) não sabemos o quanto estamos sendo pagas, assim como nós.

R: Jennifer, a recepção a "Mãe!" foi muito polarizada, havia uma conversa sobre essa possibilidade durante o processo?

Jennifer Lawrence: Sim. Quando começamos a gravar já conversávamos. Nós rimos sobre isso, mas ninguém tinha dúvidas sobre o que estávamos fazendo. Passamos três meses reunidos em um estúdio no Brooklyn falando sobre o temas do filme. No momento em que gravamos, estávamos firmes no ideal. Mesmo quando o filme estreou e nós recebemos um F no CinemaScore ou o 63% no Rotten Tomatoes], ninguém ficou realmente surpreso. Pensamos, "Bem, sim, nós sabíamos disso quando estávamos no set". Toda vez que você faz um filme e você gosta, espera que todos gostem. Esta foi a primeira vez que fiz um filme em que sabíamos que nem todos gostariam. 

Emma Stone por "A Guerra dos Sexos"

R: ​Você geralmente está certo em como seus filmes serão recebidos?

Jennifer Lawrence: Normalmente não tenho razão, não tenho instintos. Entro de corpo e alma, e então, enquanto estou lá, eu penso "Bem, quem sabe?". Quando gravei "Inverno da Alma" fiquei tipo "Bem, é melhor arrumar um emprego numa loja, ninguém vai ver isso".

Jessica Chastain: Sério?

Jennifer Lawrence: Foi tão difícil porque era a primeira vez que me via em algo. Estava apenas observando meu queixo duplo e minha acne, e se estava inchada (risos).

Jessica Chastain: Você está louca?

Jennifer Lawrence: Sou a única?

Allison Janney: Não, eu sou da mesma maneira. Para "I, Tonya", usei essa maquiagem de envelhecimento, ficava três horas na maquiagem, e então eu me vi no espelho e falei: "Oh, meu Deus, isso é fantástico! Eu não precisava me preocupar com a minha aparência". Foi tão libertador ir trabalhar sem me importar com o que eu parecia. Mesmo sendo assim de vez em quando pensava: "Oh Deus, eu posso estar tão horrível".

Emma Stone: Eu estou rindo porque muitas de nós aqui estiveram em "Histórias Cruzadas", e Tate Taylor, a diretora, me fazia rir tanto no set, então ela disse: "Tudo bem, por que você não faz suas lágrimas de risada como lágrimas de choro?". Eu sei exatamente o que é e como fazer a expressão do rosto em tristeza e  lágrimas. "Faça da seu sorriso uma lágrima nesta cena". Eu nunca tinha feito isso e estava tipo "Foda-se (sic) esse é o meu momento de sorrir chorando!" Quando vejo isso em um filme e como sou agora penso "Droga! Essa é a lágrima que sorri". Essa técnica virou meu estilo.

Saoirse Ronan por "Lady Bird"

Jennifer Lawrence por "Mãe!"

R: Há algo memorável que algum coach ou mentor de atuação disse a vocês e que carregam em cada performance?

Mary J. Blige: Bem, minha treinadora de atuação é uma das minhas amigas. Então quando gravei "Mudbound", estava passando pelo inferno na minha vida pessoal e eu apenas corri para a casa dela, me atirei no chão e comecei a chorar. E ela disse "Isto é o que você faz". Ela carinhosamente completou: "Então você pega toda essa tristeza e dê a Florence".

Allison Janney: Sanford Meisner me disse uma vez: "Não deixe ninguém lhe dizer que você é muito alta para atuar".  (risos)

Emma Stone: Isso é como a citação de James Dean: "Como você pode medir a atuação em polegadas?" Disseram a ele que era muito baixo. (risos)

Jessica Chastain: Al Pacino dirigiu e atuou em um filme em que fui protagonista ["Salomé", em 2013] e ele disse que para o filme, ele tem que ser real. Então o que quer que você esteja sentindo, a câmera é uma extensão. Ela pode ver mais de você do que seu parceiro de cena. Ela não é como se fosse uma coisa separada, mas como se fosse quase parte do seu corpo quase; Como se tivesse um link direto para sua alma. Seja como for, você pode tentar ocultar tudo, mas a câmera vai buscar.

Saoirse Ronan: Eu fiz um filme histórico recentemente ["Mary, Queen of Scots", a ser lançado ano que vem], ele se passa no século 16 e eu estava tentando me preparar para uma cena. Muito foi através desse belo e tradicional idioma antigo, o que é excelente, mas muito difícil de chegar ao coração. Eu estava conversando com um dos outros atores e ele disse: "Você sabe, o que se resume é que você só precisa falar como um ser humano". E assim que ele me disse, eu simplesmente fui, "Ah, sim, na verdade é isso". Não importa em que época você esteja ou que tipo de linguagem você está usando, é apenas lembrar que essa pessoa é apenas um ser humano.

R: Quem é o ator, vivo ou morto, com quem mais gostaria de conhecer ou colaborar?

Jessica Chastain: Gary Oldman e Isabelle Huppert são meus favoritos. Isabelle interpretou minha mãe em um filme, no "Dois Lados do Amor". Então, Gary Oldman com certeza. Desde que eu era criança, ele é alguém que quando você o vê em sua vida e compara com sua performance, ele não se parece com ele.

Jennifer Lawrence: Você nunca o reconhece.

Jessica Chastain: Tenho certeza de que ele pode andar na rua e as pessoas não o reconheceriam, o que é uma loucura para mim que as pessoas não reconheçam Gary Oldman.

Jennifer Lawrence:  Eu disse isso antes, então eu quero dizer que acho que Jessica roubou isso de mim.

Jessica Chastain: Em 2012 dei uma entrevista onde eu disse que ele era minha paixão cinematográfica! (risos)

Jennifer Lawrence: Eu vou dizer então Bill Murray. Mas eu odeio responder a essas perguntas porque há muitos mais.

Emma Stone: Se eu não fizer algo com Diane Keaton antes do fim dos tempos, não sei o que farei. Ela é meu tudo. Eu a amo, eu falo sobre ela um pouco demais. Eu também amo absolutamente Hank Azaria. Ele é criminalmente subestimado e brilhante.

Mary J. Blige: Frank Sinatra porque, claro, ele era um grande cantor, mas não sabia que ele era um grande ator. Angela Bassett é outra e ela (apontando para Janney) porque ela está simplesmente incrível em "Juno" . Ela me fez rir até chorar.

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Juliana Leão - Equipe CETI!