Aconteceu na semana passada mais um encontro entre os atores mais cotados na temporada de premiações. Essas reuniões são sempre ótimas para conhecermos mais sobre os artistas, suas inspirações e histórias. Casey Affleck, Andrew Garfield, Dev Patel, Mahershala Ali, Joseph Gordon-Levitt e Jeff Bridges estão em campanhas sólidas por personagens inspiradores e de destaque. De semelhante forma a mesa redonda que juntou as principais atrizes em disputa pelo Oscar, nesta os atores puderam falar sobre a prática do ator, escolhas, erros e acertos, gostos pessoais e sobre a luta por uma indústria cinemátografica mais inclusiva e justa. Acompanhe abaixo trechos da conversa: Reporter: Na prática do ator, o que vocês mais gostam e o que menos gostam? Andrew Garfield: Eu gosto de saber tudo o que posso. Adoro o fato de ter podido treinar por um ano como um padre jesuíta, depois treinar para ser um policial e num outro trabalho aprender como se faz uma cadeira de balanço. Quero saber tudo sobre tudo, e isso não é possível e não será possível. Eu sei que nunca vou alcançar. Neil Young tem um sonho recorrente em que ele tem a melodia perfeita, mas depois que acorda não consegue se lembrar. E isso é o que é para mim. Há algo para aspirar sempre, há outro lugar para ir. E a coisa que eu odeio em atuar é tudo o que eu disse (risos). O desejo é tão doloroso às vezes. Joseph Gordon-Levitt: O que eu não gosto é... Acho que desde o auge de Hollywood tem havido uma fusão de atores com se fossem da realeza e celebridades. É difícil ficar me queixando porque é uma vida realmente privilegiada e eu tenho, porém a coisa toda da "celebridade" é insalubre e me sinto mal de alguma forma perpetuando isso. Reporter: Por isso você quis fazer o Snowden? Joseph Gordon-Levitt: Quando Oliver Stone me pediu para fazer parte deste projeto, eu fiquei animado, mas então o próximo pensamento que eu tinha era: "Espere, Edward Snowden... Eu já ouvi muito dele, mas quem ele é e o que exatamente ele fez?" Então quando o pesquisei a fundo, percebi que estou muito grato pelo que este homem fez. Há muita desinformação sobre o que ele fez e não fez. Reporter: Você o conheceu? Joseph Gordon-Levitt: Eu o vi pela primeira vez alguns meses antes de filmarmos o filme. Fui a Moscou e nos reunimos em um escritório. Nós conversamos sobre todos os tipos de coisas, mas o que realmente era útil para mim eram aquelas pequenas coisas humanas, que era o que eu estava procurando como ator. Estava completamente focado em todos aqueles pequenos detalhes de como ele se senta ou fica de pé, como caminha e conversa. Essas eram as nuances realmente valiosas. Reporter: Dev, o que você gostou e o que não gostou em "Lion"? Dev Patel: Parece muito clichê, mas eu não pego papéis como esse - nunca. Gravar dessa forma, dizer um texto repleto de diálogos tensos e não ser superficial ou fazer um tipo de geek tech vazio, foi uma viagem transformadora. Era também algo que eu poderia me relacionar com alguém que suprimiu sua cultura e parte de si mesmo a vontade de tentar encaixar e então de repente essas memórias voltam. Quando fui para a Índia pela primeira vez para gravar "Quem Quer Ser Um Milionário" [Patel é britânico de ascendência indiana], foi um momento de encontro, sabe? Todos os clichês que tinha sobre o país e o povo foram dispersos imediatamente. Reporter: Você interpreta um personagem real, como foi quando o conheceu? Como isso ajudou no seu desempenho? Dev Patel: Foi a coisa mais terrível que já passei, porque eu tinha filmado o final do filme primeiro, então eu senti como se conhecesse esse cara, Saroo Brierley. Ele é o epítome de um jovem ferozmente conduzido pela via e tem uma memória fotográfica que é incrível. É um cara que encontrou sua mãe pelo mapa, usando o Google Earth. Ele lembra de seu passado tão vividamente, que podia reunir tanta informação como desses pixels. E eu disse: "Como foi isso?" Ele me respondeu: "Em cada clique daquele mouse, senti como se estivesse dando um passo mais perto dela, e eu poderia sentir seu cheiro." Isso só explodiu minha mente. Reporter: Qual era a corda bamba em "Moonlight"? Você interpretou um traficante de drogas por quem nos apaixonamos. Mahershala Ali: Eu já pude interpretar personagens que estão em mundos específicos, como em "House of Cards" e esses tipos políciais do FBI. Em certo ponto, as pessoas se condicionam de pensar em você de uma certa maneira, isso pode te reduzir. E assim torna-se uma luta para o ator mudar o pensamento sobre ele, para combater o seu próprio medo, perguntando se você pode fazer algo além do que já fez. O que provavelmente me preocupou mais foi que eu estava literalmente fazendo três outros trabalhos ao mesmo tempo e assim todos os dias estava viajando. Estava tentando realmente ser consciente de quem eu estava sendo naquele dia e tinha muito medo de misturar um com o outro. Andrew Garfield: Como você fazia para atravessar a fronteira entre cada personagem? Mahershala Ali: Basicamente fiz playlists específicas para cada personagem. Então, quando eu estava viajando para gravar, realmente só ouviria a música do personagem em questão. Joseph Gordon-Levitt: Eu faço muito isso. Casey Affleck: Eu nunca gravei mais de uma coisa ao mesmo tempo, mas a música pode ser emocionalmente evocativa. Reporter: Você entrou em um papel feito para o Matt Damon atuar em "Manchester À Beira-Mar". Vocês conversaram sobre isso? Casey Affleck: Matt iria dirigir esse filme e então ele decidiu por não fazer. Isso aconteceu muito antes de começarmos o filme. E eu realmente não sei falar sobre isso. Não sei como vocês se sentem, mas falar com outras pessoas sobre um personagem não é útil para mim. É um processo interno, complicado e misterioso. É quase todo dentro de si e difícil emocionalmente. Três vezes por semana eu gravava como alguém que teve um irmão morto e tentava ser autentico naquele momento. Ele me quebrou muito. Reporter: Você gosta de ensaiar? Casey Affleck: Eu não faço isso muito, mas neste filme fiz, porque Kenny [Lonergan, diretor e roteirista] veio do teatro, então ele queria ensaiar muito e falar sobre isso. A parte prazerosa para mim são os intermináveis questionamentos; falar sobre por que ele faz isso, ou por que ele fez isso, ou por que ele não faz isso. Eu realmente entro nestas reflexões. Entretanto em filmes pequenos assim, com um orçamento baixo, você sente que não tem tempo suficiente. Então às vezes nós só temos tempo para filmar metade da cena ou toda a cena apenas focada em uma pessoa. Você passa uma semana estudando a cena e é dito para você: "Nós não vamos filmar a outra metade". E isso está ok, ainda se mantém o conjunto. É um elogio a Kenny, por ele saber que sacrifícios fazer e quais não fazer, saber onde cortar e a coisa ainda poder viver. Reporter: Andrew você conviveu com um padre jesuíta para compor o personagem. Ele disse algo que mudou sua visão da vida? Andrew Garfield: Sim. Ele me disse: "Eu tenho duas boas notícias: Há um Messias e você não é ele" (Risos). Reporter: Essa é um grande conselho. Andrew Garfield: É muito bom para a nossa cultura egocêntrica. Reporter: Bridges, você é um pouco mais experiente do que esses atores. Que conselho você daria a eles? Jeff Bridges: Minha mãe me mandava para o trabalho e dizia: "Lembre-se, Jeff, divirta-se e não leve tudo muito a sério." Reporter: Você se diverte quando atua? Casey Affleck: Não no sentido tradicional, mas é algo muito gratificante. Eu não sei se alguém faz isso por diversão. Geralmente se sente como o divertimento. Jeff Bridges: Não é maravilhoso quando você tem grandes expectativas de si mesmo e então a coisa transcende as suas expectativas? Casey Affleck: Isso nunca acontece (risos). Jeff Bridges: Vamos cara, isso nunca aconteceu com você? Casey Affleck: Eu ainda estou esperando que isso aconteça. Jeff Bridges: Às vezes você pode ter o oposto, cara, e isso é de partir o coração. Eu fiz um filme - oh, isso me deixa triste até mesmo em dizer sobre - o último filme de Ash Ashby, "Morrer Mil Vezes". Posso imaginar como essa produção enlouqueceu os financiadores, porque o roteiro era apenas um esboço. Você só aparecia para gravar e acontecia ali. Os produtores não tinham respeito por ele, e um sabotou Ash terrivelmente. Ele enviou um espião para nos observar e relatar tudo. Quando finalmente este produtor apareceu, nós tínhamos cerca de três dias para acabar e grandes cenas para gravar, e ele disse: "Eu estou fechando vocês, hoje é o último dia." Nós dissemos: "Do que você está falando?" Ele disse: "Sim, é isso." Então Ash entrou em seu trailer, provavelmente "queimou um", você sabe? Ele saiu gravou uma cena de três dias de uma vez só, entregou ao editor. O produtor demitiu Ash, pegou o filme e fez as próprias modificações, e então Ash morreu. Quero dizer, que merda, sabe?
completamente sobrecarregado pela experiência, me senti como se não estivesse sendo ouvido. Isso foi realmente assustador para mim, e foi quando realmente aprendi o poder do não, a idéia de dizer não. Ouça esse instinto sempre! Reporter: Para quais papéis você disse não? Dev Patel: Muitos desde então. Você precisa ter confiança para dizer não. Jeff Bridges: Andrew e eu estamos no mundo dos super-heróis. São muitos não. Reporter: Os papéis são mais limitados para atores não-brancos? Mahershala Ali: Pegue essa, irmão [para Patel]. Dev Patel: Oh, cara. Olha, eu acho que todos nesta mesa provavelmente enfrentou uma barreira de alguma forma. Meu lema é: você tem que assumir o esteriótipo para poder quebrá-lo. Mahershala Ali: Tem que mudar de dentro para fora, como Barry Jenkins [diretor e roteirista de "Moonlight"]. Ele é de Liberty City - Flórida, e teve suas próprias experiências que são dignos de uma narrativa. Contudo, parte do desafio é transcender a raça, então você traz algo único a um personagem que talvez não tenha sido escrito para uma pessoa negra. Casey Affleck: Como um grupo de artistas, como uma comunidade, temos a obrigação de tentar abrir portas. Entretanto é realmente difícil ir de cima para baixo, também tem que haver programas de artes nas escolas. Reporter: Última pergunta. Você está em uma ilha deserta e pode levar um ator/atriz com você. Quem? Andrew Garfield: Emma Stone. Eu amo Emma. [Eles foram namorados por muitos anos]. Ela pode vir. Joseph Gordon-Levitt: Orson Welles. Jeff Bridges: Eu tenho que levar meu pai (o falecido ator Lloyd Bridges), cara. Por que não? Casey Affleck: Eu quero levar o garotinho de "Lion", o Sunny Pawar. Dev Patel: Teria que ser Bruce Lee, cara. Eu sou o maior fã de Bruce Lee. Mahershala Ali: Meu irmão André Holland. Ele realmente me inspira. Eu disse a ele isso no outro dia. Juliana Leão - Equipe CETI!
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