Senhoras e senhores, chegamos em Veneza!!!
A temporada oficialmente começa agora. As chances do vencedor de Melhor Filme do Oscar 2024 aparecer nos próximos dias é muito grande. E claro, acompanhar os festivais sempre é muito emocionante. E olha, começamos em grande estilo. O primeiro grande filme de Veneza é "El Conde". Você pode até não se lembrar, mas conhece o diretor chileno Pablo Larraín. O diretor é responsável por duas das mais elogiadas biografias dos últimos anos: "Jackie" e "Spencer". Não são filmes de evento como "Elvis" ou "Bohemian Rhapsody". Sua biografias são menores, sentimentais, melancólicas. Então, por isso todos ficaram surpresos quando ele anunciou "El Conde". Uma biografia do militar Augusto Pinochet, o líder de uma das ditaduras mais violentas e assassinas da história mundial. Mas a grande polêmica vem do fato de Pablo colocar Pinochet como um vampiro. Mas o que poderia ser algo de péssimo gosto, acaba se tornando um trunfo do filme. "El Conde" fez uma estreia muito boa em Veneza, sendo considerado original, desafiador, deslumbrante, ousado e mais um grande trabalho do diretor sobre o poder e as cicatrizes do Chile. Pinochet é um monstro, e o filme utiliza da fantasia que o gênero do terror permite para deixar mais claro o passado tenebroso que vem junto com a ditadura militar. Precisamos olhar com atenção esses filmes, para não permitir que os mesmos erros aconteçam. Pedir por intervenção militar é outra vez colocar um monstro no poder. O filme também foi muito elogiado tecnicamente, principalmente com sua ótima fotografia em preto e branco. Sigo curioso pelo fato de "El Conde" não ter sido a escolha do Chile para o Oscar 2024. Um horror satírico desafiadoramente estranho, horrível, mas de aparência deslumbrante. Aqueles que poderiam ter temido que uma comédia negra apresentando Pinochet como um vampiro suicida pudesse de alguma forma humanizar o ditador ou diminuir a gravidade do seu reinado de terror, podem considerar esses medos reprimidos pela crueldade intransigente tanto do tema como da forma. Nada neste filme brilhante é fácil: nem trabalhar a narrativa complicada, nem tentar encontrar uma linha moral clara em meio a todo o niilismo sarcástico e escabroso. Prova ser uma espécie de teste de Rorschach em que a tinta é bílis negra retirada do corpo político doente do Chile e cuspida na tela. Como um objeto de arte magnificamente desagradável, “El Conde” talvez seja melhor abordado como um desafio: veja se tiver coragem, e se, do outro lado, você sair atordoado e perturbado, em vez de simplesmente entretido, talvez isso seja apenas as lascas que você recebe quando tenta estacar um vampiro. El Conde é uma versão fascinante e maliciosamente agil sobre um assunto mortalmente sério de um diretor que, em seu décimo longa, continua a apresentar surpresas audaciosas. Outra adição poderosa aos filmes de Larraín sobre a agonia contínua do Chile e a luta do povo chileno para enfrentar o passado, armado com o martelo e a estaca afiada. Uma criação sensacional ousada e extremamente irreverente! O filme atinge um equilíbrio notável entre elementos que são potencialmente dramáticos, sombriamente divertidos, melancólicos e, a cada momento, brilhantemente realizados. Nos últimos anos, a fama de Larraín aumentou graças aos seus retratos de mulheres como Jacqueline Kennedy Onassis (Jackie) e Lady Diana (Spencer). El Conde pareceria, à primeira vista, um afastamento radical desse tipo de tema e um retorno a retratos políticos fantasiosos e influenciados pelo gênero, como o de Neruda. Mas, na verdade, tudo faz parte do mesmo assunto. Jackie e Spencer podem não parecer filmes abertamente políticos, mas são provas de que quanto mais nos aproximamos dos centros do poder, quanto mais sublimado esse poder se torna, mais enraizado ele está no ritual, na moralidade e no comportamento. As chamadas democracias ocidentais dos EUA e do Reino Unido são mundos calmos e hermeticamente fechados. É nos confins do império que acontece a verdadeira carnificina, e El Conde apresenta o Chile como uma terra distante e alheia tanto a Pinochet como às forças que literalmente o geraram. Por trás de toda a teatralidade do gênero, o que transparece de forma mais vívida em El Conde é a tristeza e a raiva de Larraín pelo que aconteceu ao seu país. De qualquer forma, estará no Netflix em algumas semanas. Aproveitem. ![]()
AUTOR DO POST
Danilo Teixeira
Editor do Termômetro Oscar | CETI
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