Chegou a hora!!! A temporada 2023 vai começar a dar seus primeiros nomes com essas duas semanas de Festival de Cannes! Vincent Lindon entrou no tapete vermelho como presidente do júri, falando sobre sua paixão pela arte e sobre política. Mas, talvez o maior destaque da abertura fique por conta do Presidente da Ucrânia, Zelensky.
Zelensky fez uma chamada de vídeo na abertura de Cannes e declarou: "Vamos vencer essa guerra! No dia 24 de fevereiro, a Rússia começou uma guerra de grandes proporções contra a Ucrânia. O cinema não deve se calar. Todos os dias, nós encontramos valas comuns. Eles só matam, matam, matam. Vocês viram Butcha, vocês viram Mariupol. O inferno não é o inferno, a guerra é pior. A responsabilidade é de uma só pessoa". "Tenho certeza de que o ditador vai perder", ele continuou, num discurso de 10 minutos aplaudidíssimo, sem nunca mencionar o presidente russo Vladimir Putin pelo nome. Depois, quem tomou o tapete vermelho e o centro do palco foi o júri de Cannes, composto por grandes nomes do cinema mundial, como o Joachim Trier ("A Pior Pessoa do Mundo"), Rebecca Hall (diretora de "Identidade"), Jeff Nichols (diretor de "O Abrigo") e o cineasta vencedor do Oscar Asghar Farhadi. Destaque da primeira noite também foi a homenagem para Forest Whitaket, que foi homenageado com uma Palma de Ouro por toda a sua carreira. Por fim, chegou a hora dos trabalhos começarem, com o elenco de "Final Cut". O longa de Michel Hazanavicius foi selecionado para abrir o festival e trouxe com ele alguns nomes do cinema francês como Romain Duris e Bérénice Bejo. A abertura teve um ar de resistência. O cinema e a política andam juntos. Governos fascistas tentam, como prioridade, matar a sua cultura. E, assim como disse Zelensky, o cinema não deve se calar. Sejam bem-vindos ao Festival de Cannes 2022! "FINAL CUT"
Existe por aí uma história de que abrir o Festival de Cannes dá azar. Nem consigo me lembrar qual foi o último filme de abertura que fez sucesso absoluto com a crítica e depois teve uma temporada de premiações pelo menos boa.
Pois bem, Michel Hazanavicius está de volta em Cannes, e ele chega com uma comédia diferente de tudo que já fez até então. Mas antes, vamos relembrar quem é Hazanavicius. Em 2011 ele estrou em Cannes com um filme em preto e branco que se chamava "O Artista", que saiu do festival com o prêmio de Melhor Ator para Jean Dujardin, para mais tarde se tornar o grande vencedor do Oscar 2012, com os prêmios de Melhor Filme e Melhor Direção. "Final Cut" abre o festival de Cannes com uma comédia de terror. O longa é a versão francesa de "Plano-Sequência dos Mortos", um filme japones, que fez um sucesso interessante alguns anos atrás ao ser muito original em seu roteiro. A história é simples: uma equipe de cinema quer fazer um filme de zumbis no meio de um ataque de zumbis. Como era esperado, o filme teve críticas mistas, mas também manteve no ar a ideia de que o cinema deve continuar mesmo quando tudo soar tão perdido. Michel pode até não agradar todo mundo nessa sua nova impreitada, e dificilmente será um filme de temporada de premiações (mas calma, temos uma elogiada trilha de Alexandre Desplat) mas pode acabar conquistando um ótimo público e ser muito comentado nos meses que virão. “Final Cut” é o oitavo longa-metragem de Hazanavicius, e como ele é considerado longe de ser um deus nos círculos cinéfilos, deixe-me dizer que gostei da maioria deles. Adoro as comédias de espionagem retrô “OSS 117” (com Jean Dujardin em uma atuação astuta o suficiente em sua miopia para comparar com Peter Sellers), achei “O Artista” uma bugiganga encantadora (embora não, não deveria ter vencido o Oscar), e sua cinebiografia de Jean-Luc Godard foi, para mim, uma fascinante desconstrução do narcisismo marxista burguês misantrópico de Godard do final dos anos 60. Mas “Final Cut” é o primeiro filme de Hazanavicius em que o cineasta parece mal controlar o que está fazendo. É um filme de uma piada bagunçado e irritante que repete a piada várias vezes – e adivinhe, não foi engraçado na primeira vez (...) No filme que estamos assistindo, zumbis atacam uma equipe de filmagem que está fazendo um filme de zumbis de baixo orçamento. Isso coloca o filme diretamente no gênero de “Shaun of the Dead”, “Planet Terror” e “The Dead Don’t Die”, exceto que nada que vemos é remotamente assustador ou remotamente engraçado. Comédia muito boa de Michel Hazanavicius sobre fazer um filme de zumbi muito ruim! Você sai do Final Cut com um sorriso no rosto, e não consigo pensar em uma forma melhor do que essa para dar início ao Festival de Cinema de Cannes este ano. Aderindo ao modelo que fez do filme de terror japonês desconstruído de Shinichiro Ueda em 2017 um sucesso cult, arrecadando US$ 60 milhões em todo o mundo com um orçamento de US$ 25000, o vencedor do Oscar Hazanavicius ('O Artista') é inteligente o suficiente para aplicar um 'não-quebrou-não-conserte', mantendo quase tudo intacto, exceto o idioma e o elenco. É como se Hazanavicius estivesse tentando abordar questões de apropriação cultural antes mesmo de ser acusado disso, e isso também sai um pouco desajeitado. Para ser honesto, porém, Final Cut é realmente apenas um filme de zumbi, que agora é um gênero universal e bem usado. No mínimo, o diretor poderia ser acusado de lucrar com a grande ideia de outra pessoa, embora certamente tenha pago por isso – o orçamento aqui é muito maior que o de One Cut of the Dead – e, como diz o ditado, “você rouba do melhor." O festival começa com uma nota sinistra com este remake frouxo e desajeitado. Se você faz um bom filme para celebrar filmes ruins, você recebe “Ed Wood”. Se você faz um filme ruim para celebrar filmes ruins, você só tem mais filmes ruins. E este é definitivamente um deles. “Final Cut” é bobo e excessivo e completamente exagerado, mas também traz a leveza e destreza do toque de comédia de Hazanavicus; o diretor de alguma forma consegue arremessar partes do corpo e excreções corporais na platéia por quase duas horas, e ainda assim você sai sentindo como se tivesse visto um filme de bem-estar. ![]()
AUTOR DO POST
Danilo Teixeira
Editor do Termômetro Oscar | CETI
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