Depois de uma estreia cheia de estrelas, o segundo dia de Cannes começa mais discreto, mas não por isso menos poderoso! Confira como foi a estreia de "Summer" e "Yomeddine". "Summer" (do original "Leto")O cineasta russo Kirill Serebrennikov abre o segundo dia de festival sob polêmicas. Não pela temática do filme ou por declarações controversas, mas por ele não estar presente em Cannes, pois está em prisão domiciliar na Rússia, acusado de apropriação indébita de fundos orçamentários. O longa estava com o lançamento previsto para o ano passado, mas por causa do processo e da sentença prévia, Kirill precisou terminar o filme em casa. "Summer" é um retrato do rock soviético underground na década de 80. Sob a influência de artistas internacionais, como Led Zeppelin e David Bowie, o rock vibrava na cidade, marcando o nascimento de uma nova geração de artistas independentes. O longa retrata a história real de Viktor Tsoi, o primeiro nome famoso no gênero vindo da Rússia, que teve uma carreira repleta de polêmicas. A Variety elogiou o filme dizendo ser um trabalho de direção muito interessante, principalmente por trabalhar com o preto e branco, mas que como cinebiografia, o filme soa muito confuso: "o filme evita alegremente as pequenas armadilhas estruturais de cinebiografia musical, mas também oferece aos estranhos poucos pontos de entrada para o seu nicho. A própria cena é a estrela aqui, e Serebrennikov está mais preocupado que nós a experimentemos do que a entendemos". O Indiewire também falou basicamente sobre a mesma coisa, mas entregou comparações interessantes: "Em uma linha do tempo longa o suficiente, cada cena do rock do século 20 terá o réquiem que merece. Manchester ganhou "A Festa Nunca Termina", o meio-oeste norte-americano recebeu "Quase Famosos" e agora a cena russa recebe "Leto", de Kirill Serebrennikov, que é um retrato impressionista da União Soviética". O Indiewire ainda escreve que o filme é uma forte repreensão à Rússia de Putin, mas que é uma pena que o filme talvez não funcione tão bem no resto do mundo, quanto irá funcionar no seu próprio país. The Guardian entregou 3 estrelas em 5 e começou o texto falando sobre a força do longa: "Kirill Serebrennikov induziu em sua platéia em Cannes na noite passada uma espécie de saudade russa, um anseio melancólico por um tempo, um lugar e uma situação que a maioria ignorava antes do início do filme. É uma carta de amor opaca, mas de certa forma sedutora, para o passado, uma ficionalização das experiências de vida do diretor como um conhecedor apaixonado de vinte e poucos anos do rock ocidental; uma rebelião agora ainda mais ressonante com o diretor em prisão domiciliar na Rússia". "Summer" deve atrair muitos festivais e inclusive levar algum prêmio em Cannes, pela sua importância histórica e qualidade técnica. Kirill é um diretor a ser comemorado. Mas, provavelmente, para o Oscar as chances são menores. Principalmente se o filme realmente soar como uma crítica ao governo de Putin. "Yomeddine"O desafio do diretor Abu Bakr Shawky em Cannes era levar a história de um leproso copta e de seu aprendiz órfão as grandes telas. No longa, os personagens deixam os confins de uma colônia de leprosos pela primeira vez e embarcam em uma jornada pelo Egito para buscar o que resta de suas famílias. A história tocante tinha tudo para sensibilizar o público do festival, mas em contra-partida o que foi visto foi uma trama leve e com tintas açucaradas. O filme, foi concebido pelo diretor a partir de seu documentário anterior intitulado The Colony, sobre a colônia de leprosos Abu Zaabal, nos arredores do Cairo. Uma das apostas era explorar o humor nas telas, porém não foi bem recebido. Segundo o The Guardian: "O humor ou a ironia me impressionaram ao assistir o filme, pois parece um pouco condescendente e mal-pensado". E ainda completam, comentando sobre a infantilização do personagem principal: "Estamos falando de um adulto inteligente com algumas experiências de vida difíceis, de modo que a abordagem dele deixa a desejar. De alguma forma, eu preferiria ter conhecido mais sobre o casamento dele." Outro ponto destacado pela imprensa presente em Cannes está na crueza da produção, destacando que apesar de ser um filme interessante, não tem força para estar num festival de tamanha importância quanto este. "Embora seja uma novidade ver um filme com um protagonista interpretado por um ator não-profissional que na verdade ainda vive em uma colônia de leprosos, isso não é suficiente para fazer com que esse filme de estrada se mostre capaz de corresponder às expectativas que surgem em um espaço de competição como Cannes", declara Boyd van Hoeij, do The Hollywood Reporter. Se "Yomeddine" causou estranheza para alguns veículos, para o Screendaily ele foi mais do que satisfatório: "Este road movie silencioso e emocionalmente preciso acompanha os personagens em cada passo do caminho, inventando na graça o que falta em termos de urgência." O destaque que dão ao filme é tão grande que ainda completam: "À medida que os personagens percorrem o interior do Egito, Shawky e o diretor de fotografia Federico Cesca dão ao deserto uma riqueza completa, judicialmente incorporando flashbacks para esboçar a história de fundo de Beshay. Yomeddine apresenta toda a aflição do personagem". Por fim, o resultado teve opiniões divididas, do mal gosto ou emocionalmente rico. Sem dúvidas, "Yomeddine" é uma história que merece ser conferida nos cinemas de todo o mundo, uma vez que apresenta um retrato da vida em colônias de tratamento de leprosos. Em Cannes, o filme se coloca em posição de espera, não é um dos principais a ser exibidos, mas mostrou o seu valor. Fotos do dia 2Danilo Teixeira e Juliana Leão - equipe CETI!
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