Nada como começar um novo dia com polêmicas. O longa "Love", que estreou à meia-noite no dia anterior, foi recebido na conferência de imprensa no dia 9 com muitos questionamentos sobre sua trama para "maiores de 18 anos". "Love" não foi o único que se destacou, os longas "The Assassin" e "Dheepan" estrearam em competição e também chamaram a atenção da crítica. Confira, abaixo: The AssassinO diretor tailandês Hou Hsiao-Hsien retornou às produções cinematográficas após 8 anos afastado e estreou seu novo filme durante o Festival de Cannes, "The Assassin", baseado nos contos de Nie Yianniang. E o longa tem chamado a atenção dos especialistas pelo jogo de cores aplicado em diferentes cenas e a veracidade das coreografias. "The Assassin" fala sobre Nie Yianniang, uma jovem treinada para o combate contra tiranos que regressa à sua cidade natal para matar o governador da província, quem também é seu primo e primeiro amor, assim ela deverá decidir entre romper com a “Ordem dos Assassinos” ou enfrentar o homem que ama. Na coletiva de imprensa Hou Hsiao-Hsien comentou junto de seu elenco sobre suas inspirações para a adaptação da história: “Sou razoavelmente familiarizado com a literatura, sou interessado neste tema deste que estudei na faculdade, me interessava também pelos personagens femininos, que são na maioria assassinas. O que eu realmente gostava era o conto de Nie Yinniang, essa dinastia é bem colorida, a dinastia e a literatura compõem vários contos fantásticos”. Depois de 8 anos longe das câmeras, o diretor não quis comprometer suas atividades e comenta: “Os atores também são muito maduros e experientes, então decidi que agora era o momento certo para filmar”. E completa a respeito do trabalho meticuloso ao destinar as coreografias “Vi muitos filmes de kung fu e sou particularmente fã dos japoneses, filmes de samurais, porque os combates são realistas, mesmo hoje em dia [...] O que importa mais são as técnicas, existem muitos truques nas artes marciais japonesas, por isso eu queria fazer meu filme de arte marcial deste jeito, queria transparecer o mesmo realismo, a mesma energia”. Já a atriz Shu Qi respondeu a respeito da imponência das personagens assassinas “Eu conheço o diretor, ele trabalha muito detalhadamente, essa é a terceira vez que trabalho com ele. Não diria que é mais para o lado do homem ou da mulher, porque para ele na parte dos personagens há outras coisas importantes, seus adereços, o vento, a água, o fogo, todos esses elementos são igualmente importantes para seu trabalho e como colocá-los juntos”. O trabalho de Hou Hsiao-Hsien foi bastante comparado pela crítica ao detalhamento de direção de câmeras do diretor Stanley Kubrick e neste ponto os especialistas concordam em unanimidade. A câmera de Lee encontra um equilíbrio maravilhosamente sutil de cores e texturas em cada cena, e seu olho para a composição é tão excelente como sempre; a construção de um mundo quadro a quadro, seus planos longos e lentos capturam a interação do personagem de Hou dentro do espaço e com cada um. – Variety É um filme de grande inteligência e refinamento estético; há majestade e mistério neste filme. – The Guardian Os takes podem ser longos, mas a edição ainda é marcante em suas justaposições. O equilíbrio de cores em cada quadro é de tirar o fôlego. A pureza proposta por Hou, no entanto, também tira o enredo de muita lucidez e alguma estrutura. – The Irish Times O The Irish Times ainda afirmou que este foi um dos melhores filmes apresentados em Cannes neste ano. Aparentemente Hou Hsiao-Hsien fez uma obra prima com "The Assassin" e é um forte candidato à Palma de Ouro. DheepanDepois de ter obtido sucesso com o filme Ferrugem e Osso (2012) estrelado pela atriz francesa ganhadora do Oscar de Melhor atriz, Marion Cottilard e dos inúmeros prêmios obtidos com O Profeta (2009), o cineasta Jacques Audiard exibiu em Cannes seu novo filme ‘Dheepan’. Trazendo a discussão de dilemas morais complexos, o longa também flerta com características de thrillers típicos de Charles Bronson e Clint Estwood. Melhor candidato francês na disputa da Palma de Ouro, apesar das críticas mistas. Jesuthasan Antonythasan interpreta "Dheepan", soldado cingalês de movimentos armados, sai de seu país e tentar a sorte na Europa. Por um acordo politico ilegal, ele precisa levar consigo a menina Illayaal (Claudine Vinasithamby) e a jovem Yalini (Kalieaswari Srinivasan), como se elas fossem sua filha e sua mulher. Ele aceita e inicia uma vida com as duas – sem muitos laços de afeto – na França, trabalhando como vendedor de bugigangas pelas ruas até assumir um serviço de zelador em um conjunto habitacional assolado pelo tráfico de drogas. Scott Foundains, crítico da revista Variety, destaca positivamente o entrosamento e carisma dos atores em seus personagens. Antonythasan traz uma interpretação intensamente contida, demonstrando seu conflito interior. Não somente ele merece destaque, mas Srinivasan a atriz indiana que faz sua mulher, completa em conflitos, mostra com muitos sentimentos a sua dor. Andrew Pulver, crítico do The Guardian, deu quatro estrelas em cinco e fala sobre o lirismo da obra do diretor, que faz o filme se destacar e soar poético, mesmo com uma sangrenta batalha. E ainda diz que esse pode não ser o filme mais eletrizante do diretor, mas, que mesmo de forma sutil, é um trabalho extremamente poderoso. Jordan Hoffman, do Vanity Fair, foi um pouco menos simpático e disse que Audiard não confia em seus próprios instintos humanistas, interpretando o seu próprio filme e insistindo que a tensão precisa entrar em erupção, existindo uma conclusão no estilo ‘Taxi Driver’. E ainda diz que amou os primeiros 90 minutos da fita, mas que os últimos 10 deixam muito a desejar. ‘Dheepan’ tem boas críticas, mas fez sua estreia entre os filmes favoritos à Palma de Ouro, o que pode ter apagado um pouco sua presença. Mesmo assim, continua na corrida, e pode surpreender. LoveAntes de apresentar o filme que passou na sessão da meia-noite, vamos voltar um pouco no tempo. Estamos em 2002, um diretor conhecido por seus curtas polêmicos acabou de estrear seu mais novo longa, e está em competição no festival. Mas, poucos minutos depois de começada a projeção, algumas pessoas da plateia começam a sair, indignadas, dizendo estarem enojadas e sentindo-se ofendidas com esse filme. Enquanto isso, para outras pessoas, assim se consolidava um dos mais corajosos e inovadores - e extremamente peculiar, diretor de cinema, Gaspar Noé. Em 2002, sua ultima passagem por Cannes, Gaspar trouxe o longa "Irreversível”, não recebeu nenhum prêmio, mas foi de longe, o filme mais polêmico de toda competição. Esse ano, Gaspar está de volta em Cannes, com o filme “Love” – pouquíssimo se sabia a respeito do longa, não foi divulgada a sinopse e nem trailer, apenas um cartaz e a informação de que seria o primeiro longa do diretor filmado em 3D. E já foi o bastante, pois uma fila de mais de 2 mil pessoas já estava formada na porta do Palais des Festival, bem antes da exibição começar. O longa conta a história de um homem de 25 anos, que é casado e tem um filho. Um dia, sozinho em casa, se deixa levar pelas recordações da sua relação com Electra. Noé disse que é um filme sobre ‘o estado amoroso nos dias de hoje’. Mas, a polêmica foi feita. ‘Love’ trás inúmeras cenas de sexo explicito, e deu muito o que falar, muitas pessoas disseram que esse era o primeiro filme pornográfico com exibição em Cannes. Gaspar se defende e diz que apenas era “um filme que reproduz completamente a paixão de um jovem casal apaixonado". ‘Love’ foi muito bem recebido na exibição aberta ao público, recebendo uma boa rodada de aplausos, mas a crítica não foi tão positiva assim, com alguns jornalistas inclusive abandonando a exibição na metade. Leslie Felperin, do THR: “É difícil dizer se este trabalho vai fazer qualquer rebuliço no mercado. Noé certamente tem uma base de fãs, especialmente na França, mas para telespectadores casuais, o que chamava atenção em seus trabalhos mais antigos, era a coragem de suas cenas que chocavam o público, e não há muito disso nesse longa. Mesmo essa ideia de fazer uma história de amor, onde o sexo ilustra a emoção, já foi tentada antes, por Michael Winterbottom com ‘9 músicas’. Estritamente julgado pelo critério de filmes de sexo, o longa é realmente muito convencional em suas configurações de corpos e posições, não há nada que não se encontre com um par de cliques na Internet”. Eric Kohn, do Indiewire, disse que ‘Love’ “joga mais como o prelúdio de um filme que Noé ainda pode querer produzir”. Kaleem Aftab, do The Independent, deu três estrelas em cinco e elogiou a parte técnica do filme: “O que define o filme de Noé, além da tarifa pornográfica padrão - na verdade o que define a obra do diretor, e o destaca dos outros diretores - é seu brilhantismo visceral, especialmente em seu uso do som e filtros de lentes vermelhas”. ‘Love’ está fora de competição, sendo exibido na sessão da meia-noite. Gaspar Noé não faz o tipo de filmes bem aceito pela academia, na verdade, a preocupação do diretor, é vender seu filme para o máximo de países possível e sem corte algum. FOTOS DIA 9Giovanna Pini - Colaboradora; Danilo Teixeira e Juliana Leão - Equipe CETI
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