De Olho na Técnica: A maquiagem do Oscar 2021 de "A Voz Suprema do Blues", que transformou Viola Davis em Ma Rainey!

Indicados Creditados ao Oscar 2021 pela Maquiagem de "A Voz Suprema do Blues":

• Sergio Lopez-Rivera (Estreia no Oscar) Trabalhos anteriores: "Como Defender um Assassino" (TV).
• Mia Neal (Estreia no Oscar) Trabalhos anteriores: "Joias Brutas" e "O Espetacular Homem-Aranha".
• Jamika Wilson (Estreia no Oscar) Trabalhos anteriores: "As Viúvas" e "Como Defender um Assassino" (TV).

Transformar Viola Davis na cantora de blues dos anos 1920 Ma Rainey não foi uma tarefa fácil, especialmente porque sua equipe de cabeleireiros e maquiadores teve apenas duas semanas de preparação antes de começar a produção.

A chefe do departamento de cabeleireiro, Mia Neal, e a cabeleireira pessoal de Davis, Jamika Wilson, que foi indicada ao lado do maquiador Sergio Lopez-Rivera, são as primeiras mulheres negras a serem indicadas na categoria de maquiagem no Oscar.

Lopez-Rivera é o maquiador pessoal de Davis há anos e, junto com Wilson e Neal, ele colaborou de perto com a atriz sobre como sua personagem deveria ser. Eles consultaram Davis sobre o que ela sentia por Rainey, bem como fizeram uma extensa pesquisa sobre a cantora, o período de tempo e quais produtos estariam disponíveis para as mulheres negras naquela época. Por causa do curto tempo de preparo, Lopez-Rivera abandonou rapidamente a ideia das próteses, e preferiu a maquiagem e dentes de ouro para criar a estética.

“Não há muitas imagens de Ma Rainey por aí, então as pesquisas foram mínimas”, observa Wilson. “Mas há um visual muito icônico de Ma Rainey com uma linda faixa na cabeça e a franja francesa, então partimos daí. E dependíamos muito da [figurinista] Ann Roth, que tinha todas essas informações para nos ajudar".

“Fiquei chocado ao descobrir que realmente não havia nada disponível para as mulheres negras além de alguns cremes clareadores disponíveis para pele escura, o que por si só enviava a mensagem errada”, diz Lopez-Rivera. “Fora isso, as mulheres negras tinham que se contentar com o que estava disponível para as mulheres brancas ou com o que elas podiam fazer em casa. Então, peguei a ideia de que Ma Rainey não se incomodaria em comprar maquiagem caucasiana e tentar fazer funcionar. Ela era uma artista infantil e entrou para o vaudeville desde cedo. Eu queria que a maquiagem refletisse essa teatralidade, mas também aquela maquiagem caseira, nervosa, vulnerável, mal aplicada, mas aplicada propositalmente”.

A peruca de Davis no filme é feita de crina de cavalo, que data dos anos 1920. Neal pesquisou e encontrou o cabelo de cavalo para construir a peruca, e todos na equipe de cabelo e maquiagem queriam ser o mais autênticos possível. Ao longo do filme, especialmente durante as cenas de desempenho, a maquiagem de Rainey está borrada e pingando, seu rosto coberto de suor. A ideia de que ela não estava preocupada em retocar sua aparência veio de várias biografias que Lopez-Rivera leu, incluindo uma por um dos membros de sua banda. Essas descrições visuais eram “ouro” para a maquiadora, que lembra que Rainey era considerada a mulher mais feia do show business, que também suava muito.

“Essas duas coisas já são blocos de construção para meu projeto para a maquiagem de um personagem”, disse ele. “A primeira vez que a vemos, fora dos flashbacks de suas apresentações, é quando ela está saindo do hotel. A maquiagem dela é muito bem aplicada naquela cena. É novo, mas não é perfeito. É um pouco confuso, mas é apropriado. Mas conforme o dia avança, ela tem um dia ruim e é julho em Chicago. Ela não é uma dessas mulheres que se olha no espelho compacto. A história que contei a mim mesma foi que ela fez a maquiagem uma vez e foi isso. O que você vê é o resultado do calor, estresse, luta, claustrofobia de uma forma visual”.

Davis até fez referência a Bette Davis em "O Que terá Acontecido a Baby Jane?" ao discutir o design da maquiagem com Lopez-Rivera, encorajando-o a permitir que ela fosse bagunçada.

“Viola queria ter certeza de que não estávamos tentando deixá-la melhor”, diz ele. “Que não estávamos tentando deixá-la na moda ou bonita. O que ela me disse foi: 'Você pode levar isso tão longe quanto quiser e eu ficarei bem. Minha vaidade ficará bem. Eu confio em você, leve isso o mais longe que você acha que pode ir. 'Ela me deu permissão para fazer isso”.

O visual ondulado que Davis usa nas cenas de estúdio de gravação era, em contraste, feito de cabelo europeu. “Todas as joias, os dentes de ouro e as peles - qualquer coisa que você tinha em uma revista, [Ma Rainey] terá”, explicou Neal. "Você vê sua estatura e classe na sociedade, à primeira vista." Mas o próprio processo de filmagem revelou o valor da crina de cavalo, que retém os cachos como as perucas sintéticas modernas. “Você precisa ser autossuficiente e manter a continuidade do seu show”, disse Neal, imaginando as restrições da década de 1920 para Ma Rainey. "Como você faz isso? Se você vai estar em Memphis na próxima semana e não há um salão de cabeleireiro negro? Você está em Chicago e não consegue encontrar um estilista? Esta mulher teve que carregar seu show com ela".

"Ela está hiperconsciente de que não é magra, de que não tem pele clara, de que não é todas essas coisas”, observa Lopez-Rivera sobre a personagem. “Mas ela é uma performer. E ela tem acesso e privilégio, dentro das limitações de ser uma mulher negra na América dos anos 1920. Ela tem todo esse acesso e é isso que ela decide fazer com o rosto e com o cabelo e com a roupa ”.

O trabalho em "A Voz Suprema do Blues" reflete a evolução recente do cinema e da TV, onde as personagens femininas não precisam parecer arrumadas ou tradicionalmente bonitas.