O ano de 1992 marcaria a estreia oficial no cinema de um cineasta nada menos do que brilhante. Os anos como empregado em uma locadora contribuiu não só para o contato com os mais diferentes materiais, mas também para incrementar a verve criativa daquele jovem. Hoje é impossível pensar no cinema sem a presença de Quentin Tarantino. Cultuado, ícone da cultura pop, o americano é posto com segurança ao lado dos grandes diretores e roteiristas da história da sétima arte. Ao revolucionar a narrativa e criar um gênero autoral, principalmente juntando sequências de ação, comédia e violência [muita violência], Tarantino brindou o cinema com produções inesquecíveis que são referencias para outros tantos filmes. O primeiro foi “Cães de Aluguel”, que o CETI recomenda hoje, mas em sua filmografia ainda estão os clássicos “Pulp Fiction”, “Kill Bil Vol. 1 e 2”, “Bastardos Inglórios”, “Django Livre” e “Os Oito Odiados”.
Alguns aspectos técnicos são bem trabalhados na obra. A fotografia de Andrzej Sekula entra em sintonia com os métodos e as intenções mais loucas do cineasta. No filme são apresentados planos fixos, simples, câmera na mão, voyeurismo a la Hitchcock, planos que parecem ter sido feitos do porta malas de um carro. O filme é tão diferente que mesmo em cenas dotadas de intensa violência, sangue e brutalidade, causam reações paradoxais na platéia, a angústia e o horror contrastado com uma certa diversão pelo seu exagero e situações absurdas. O poderia ser uma bagunça visual, encaixa perfeitamente na história que se quer contar. A trilha sonora acompanha de forma excepcional as cenas, como parte integrante de tudo o que é contado, elevando a tensão nas cenas mais críticas e também trazendo frescor nas situações engraçadas. A música é a responsável por uma das melhores cenas de todo o filme, a discussão sobre o real significado de Like a Virgen, da diva pop Madonna. Ver um grupo de homens divagando sobre algo polêmico e teoricamente pertencente ao universo feminino é impagável, e a conclusão que eles chegam é no mínimo constrangedora. Outro ponto positivo de Tarantino é o trabalho que ele faz com o elenco. “Cães de Aluguel” é composto basicamente por homens, tirar dos atores as nuances da personalidade masculina foi feito com sucesso. Misturando um elenco veterano com jovens promissores, temos atuações brilhantes, principalmente de Madsen com o seu Mr. Blonde. Esta tornaria então uma das principais qualidades do cinema de Tarantino, a possibilidade de reunir um cast diversificado e premiado de atores e extrair deles o seu melhor. Afinal, quem não lembra do lunático Leonardo DiCaprio em “Django Livre” e das atuações de Christoph Waltz no próprio Django e em “Bastardos Inglórios” que lhe renderam dois Oscar de melhor ator coadjuvante. Dois anos depois, Tarantino abalaria de vez o cinema com “Pulp Fiction: Tempos de Violência”. De forma meteórica tornou-se um ícone da cultura pop que tanto apresentou em seus filmes e se declara apaixonado. Talvez o mundo ainda não estivesse preparado para aquela nova linguagem cinematográfica e “Cães de Aluguel” esteve de fora das premiações da temporada, que teve Clint Eastwood laureado por “Os Imperdoáveis”. Hoje, o mundo não está preparado para a ausência de Tarantino das telas. Há anos ensaiando sua aposentadoria, ele afirma que só restam a ele dois últimos filmes, dentre estes um possível “Kill Bill 3”. Aos fãs valem rezas, protestos e abaixo assinados para que mude de ideia. Enquanto Hollywood faz fila para trabalhar com Tarantino enquanto ainda há tempo, todos os cinéfilos fazem fila nas salas vestidos com camisas estampadas com o rosto do diretor. Ninguém está preparado.
Juliana Leão - Equipe CETI!
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