Adèle Haenel, atriz de "Retrato de Uma Jovem em Chamas", anuncia aposentadoria por não aguentar mais a forma como o cinema francês defende agressores sexuais!

O Festival de Cannes começa amanhã, mas já abre as portas de uma forma polêmica.

No final de semana, Adele Haenel, conhecida por "Retrato de Uma Jovem em Chamas", anunciou por carta que vai largar a atuação, por não aguentar mais a forma como o cinema francês lida com agressores sexuais.

Adéle já andava fora da indústria desde a cerimônia do Prêmio Cesar de 2020. Naquele ano, Roman Polanski ganhou o prêmio de melhor diretor e Haenel, que estava concorrendo como Melhor Atriz por  “Retrato de uma Jovems em Chamas”, saiu da cerimônia em uma explosão de raiva ao ouvir o nome de Polanski, gritando “Bravo, pedofilia!”.

Vários meses antes, Haenel acusou o diretor francês Christophe Ruggia de tê-la assediado sexualmente quando ela tinha apenas 12 anos, levando ao nascimento do movimento francês #MeToo. Desde então, Haenel saiu do cinema para se dedicar ao ativismo político, além de teatro e dança com a artista Gisèle Vienne. 

Em sua carta, Haenel faz alusão à recente investigação conduzida pela Mediapart sobre Gerard Depardieu, que continuou recebendo papéis apesar de ser acusado de violência sexual por 13 mulheres e acusado de estupro. Haenel também menciona Dominique Boutonnat, o presidente do National Film Board que, apesar de ter sido indiciado por agressão sexual, foi reconduzido em julho passado para um segundo mandato à frente da maior instituição cinematográfica da França.

Não por acaso, a carta de Adele também foi publicada próximo ao Festival de Cannes, onde o filme de abertura é estrelado por Johnny Depp, envolvido em um caso de violência doméstica.

Abaixo estão alguns trechos importantes da carta aberta de Haenel:

“Decidi politizar minha retirada da indústria cinematográfica para denunciar sua complacência generalizada em relação aos agressores sexuais.”

“Vamos dizer claramente: à medida que a biodiversidade entra em colapso, a militarização da Europa está decolando e a fome e a miséria continuam se espalhando, por que o mundo do cinema – reunido colegialmente no Cesar Awards para promover seus filmes – está obsessivamente ansioso para permanecer ‘alegre’? Para garantir que eles falem sobre 'nada'".

“Em um contexto de movimento social histórico, estamos esperando para ver se os grandes players da indústria cinematográfica estão esperando — como os patrocinadores da indústria do luxo — forças policiais para que tudo ocorra normalmente no tapete vermelho do Festival de Cannes."

“Enquanto isso, todos se unem para salvar a face de Depardieu, Polanski e Boutonnat. Isso os enerva e os perturba que as vítimas façam muito barulho; eles prefeririam que continuássemos a desaparecer e morrer em silêncio. Eles estão prontos para fazer qualquer coisa para defender seus chefes estupradores, aqueles que são tão ricos que acreditam pertencer a uma espécie superior, aqueles que fazem uma demonstração dessa superioridade... Objetificando mulheres e subordinados.”

“Não tenho outra arma além do meu corpo e da minha integridade. Cancele a cultura no sentido primário: você tem o dinheiro, a força e o dinheiro, você se deleita com isso, mas não me terá como seu espectador. Eu te cancelo do meu mundo. Parto, faço greve, junto-me aos meus camaradas, cuja busca de sentido e dignidade prevalece sobre a do dinheiro e do poder.”

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AUTOR DO POST

Danilo Teixeira

Editor do Termômetro Oscar | CETI