Os motivo para a escolha do longa de Walter Salles são inúmeros, sejam eles técnicos sobre a obra ou mesmo os inúmeros retratos e reflexões advindos dele. O que podemos afirmar, sem dúvidas, é que ele forma parte essencial da história do cinema brasileiro e da história do nosso próprio país. Vamos comentar o longa em dois aspectos: o filme em si e a sua representatividade.
Depois de viver forte decadência nos anos de ditadura e praticamente ser extinto pelo presidente Collor junto com a Embrafilme, o cinema nacional ressurgiu nos anos 90. A volta dos incentivos, também fez retornar a qualidade do que era produzido, deixando-o tão forte que passamos a fazer boa frente internacional. Prova é que concorremos ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por três vezes durante a década, com "O Quatrilho" (1995), "O Que é Isso Companheiro?" (1997) e então "Central do Brasil". O nosso filme em questão alcançou um sucesso só alcançado anos depois por "Cidade de Deus". Central ganhou o Urso de Ouro em Berlim, Bafta e o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, além da nomeação ao Oscar. A atriz Fernanda Montenegro ganhou o Leão de Prata em Berlim, além de indicação ao Globo de Ouro e Oscar, a primeira e única atriz brasileira já indicada. Para contar a viagem de uma professora aposentada que escreve cartas para pessoas analfabetas, e um rapaz, cuja mãe acaba de morrer e está a procura do pai que nunca conheceu, Walter Salles nos lança para dentro do Brasil e dos brasileiros. A fotografia solar de Walter Carvalho e a trilha exuberante de Jaques Morelenbaum e Antonio Pinto fazem com que os espectadores se conectem com a identidade e a realidade. | Se alguma vez sentir falta de mim, dê uma olhada em nosso pequeno retrato. Eu digo isso porque eu temo que você vai me esquecer também. Tenho saudades do meu pai. Eu sinto falta de tudo. |
Todo o filme está centrado na força da interpretação de Fernanda Montenegro e na parceria com o novato Vinícius de Oliveira. Eles caminham em tela formando um dupla que tranforma a dor em ternura, as diferenças em união. Um precisa do outro para seguir em frente, para ter sentido na vida. Fernanda é a maior atriz brasileira, suas contribuições para o cinema, teatro e televisão são repletas de prêmios e reconhecimento de seus pares e público. Sua Dora exala emoção, ela é tão detalhada que cada sorriso, cada expressão traz uma história junto. Sua indicação ao Oscar é merecida e a vitória de Gwyneth Paltrow por "Sheakespeare Apaixonado" ainda desce arranhando a garganta. Vinícius é uma grata surpresa, sua atuação é sensível, terna. O elenco ainda conta com dois grandes nomes do cinema nacional, Marília Pêra e Othon Bastos, excelentes. Além de dois jovens atores, a época, que contruíram sólidas carreiras no cinema, Matheus Naschtergaele e Caio Junqueira.
Por fim, "Central do Brasil" é um filme que precisa ser visto e revisto pelos brasileiros, por dois motivos: o primeiro é para deixar para traz a síndrome de vira-lata que nos persegue, porque quando queremos sabemos fazer cinema de qualidade; segundo é para não nos esquecermos de quem somos, do que o brasileiro é formado. Sim, são muitas dificuldades, muitas lutas, mas, como diz a velha frase, não somos povo de desistir. Em um momento político e social tão conturbado, quando for pular a última onda deseje NÃO PERDER SUA IDENTIDADE.
Curiosidades - O ator Vinicius de Oliveira, que era um engraxate, disputou com mais de 1.500 outros atores o papel de Josué. - Enquanto gravava suas cenas na Central do Brasil, pessoas comuns se aproximavam de Fernanda Montenegro pedindo para que ela escrevesse cartas para eles. Salles incorporou ao longa algumas filmagens. - O longa foi todo filmado em sequência. |
NOME ORIGINAL: Central do Brasil ORIGEM: Brasil ANO: 1998 GÊNERO: Drama DIREÇÃO: Walter Salles ROTEIRO: Walter Salles, João Emanuel Carneiro e Marcos Bernstein. ELENCO: Fernanda Montenegro, Marília Pêra, Vinicius de Oliveira, Othon Bastos, Matheus Naschtergaele, Caio Junqueira. | |